Os dois irmãos que moldaram Rickson Gracie

Esta pergunta chegou durante o webinário de Rickson Gracie realizado alguns anos atrás: "Entre seus irmãos, família, alunos, qual foi seu mais duro parceiro de treino de todos os tempos?".

A resposta do mestre foi muito mais profunda do que você talvez espere, tocando na construção de seu espírito de guerreiro e de seu estilo de ensino. Leia-a em seguida. 

"Sou nascido e criado numa família de campeões. E partindo dum determinado ponto, minha visão foi voltada para dois caras que meio que me guiariam por meu processo de aprendizado no jiu-jítsu: Rorion e Rolls, meus dois irmãos mais velhos. Rorion era um grande técnico; ele dá ótimas aulas particulares; ele sabe falar e dar a sensação de construir um aluno; então eu aprendi muito sobre o aspecto de ensino com o Rorion. 

"Rolls foi um grande campeão, foi um cara focado em ser um cara que faz seu melhor em tudo que faz; ele não tem o conceito de desistência em sua mente; ele é um guerreiro, ele é um campeão; ele era meu ídolo em termos de 'o que serei quando eu crescer'. Então, nesse processo, eu me construí, aprendendo muito, treinando pesado; e definitivamente, pra sempre, tenho o Rolls como meu ídolo, como o cara que quero chegar lá, algum dia, ao nível dele. 

"Então ele foi o oponente duro; foi o cara mais duro que já encontrei no tatame, porque ele não só me dava uma surra, mas também me mostrava os truques e... Então, até o ponto em que passei a aguentar o treino dele, eu não podia ser como ele, ele era o mais duro.

"Depois que passei pelo Rolls e senti que ele tinha me ensinado tudo que eu precisava, e senti que não tinha mais segredos entre nós, e me senti realmente à vontade com o Rolls — depois daquilo, rapaz, tudo mais foi um mero... eu não diria 'um dia no parque', mas foi, digamos, uma rotina. O sujeito pode bater em trinta segundos, pode ser em cinco minutos, pode ser em oito minutos... mas ele sempre vai bater. Então eu sentia que, do ponto em que Rolls me promoveu a campeão, eu sentia que ninguém mais me dá trabalho; e sou invicto por toda a minha carreira, desde os dezoito anos até o ano 2000; e eu tava sempre finalizando meus oponentes; nunca venço por pontos. Então me senti bem à vontade com todo mundo em que botei as mãos, até minha aposentadoria."