A vez que Rickson derrotou o japonês especialista em dor (parte 1)

Rickson Gracie e o Japão têm uma relação amorosa desde os anos 90. Conforme disse o mestre em seu memorial, Respire, ele adora visitar o Japão, porque experimentou uma conexão profunda com o país e sua cultura durante seus anos de lutador. 

Esta conexão, unida às idiossincrasias da cultura popular japonesa, produziu certas participações ímpares em programas de TV.  Perguntamos a Rickson sobre um episódio mencionado no livro. Veja a primeira metade de sua resposta:

"Esse programa foi um fato bem interessante que aconteceu. Na última vez que estive com o Kron no Japão para a luta dele... Tenho um agente lá que sempre tenta me arrumar trabalho, só pra me manter ativo. E desta vez específica, tinha este programa dum médico que se chamava Dr. Dor ou algo assim. 

"Então o programa é: o doutor visita algumas celebridades, e há um ponto de pressão no pé que ele pressiona, e ele diz que ninguém consegue resistir nem por uns segundos, que ninguém jamais chegará a trinta segundos. E ele tem certeza de que todo mundo vai desistir. 

"E o programa me perguntou se eu podia ir fazer o teste, se eu resistiria ou não, só pra ver quanto eu aguentaria, e me ofereceriam algum dinheiro, que na época ajudaria bastante; portanto, pelo dinheiro, façamos a diversão! 

"E eu estava lá no hotel; o doutor, ali; o doutor é um sujeito baixo com braços muito grossos, dedos curtos, mas mãos muito fortes. E o produtor me explicou, 'Sr. Gracie, isto se chama... Se você aceitar o desafio, vocês entrarão numa disputa — se você vai desistir, ou se ele vai te fazer desistir. Então, ele vai apertar por trinta segundos; se você passar de trinta segundos, você vence; se você desistir antes de trinta segundos, ele vai vencer'. 

"E eu achei que era muito... Digo, eu espero coisas dolorosas. E achei que, para eu chegar àquele tipo de estado de espírito ideal, comecei a ver o cara e ver os elementos duma luta, pois minha mentalidade para uma luta é: não vou desistir, haja o que houver; e se você me pegar numa chave de pé, vai levar meu pé, quebrar minha perna, e eu ainda vou, mancando, tentar fazer algo; se meu irmão jogar a toalha, tá bem; se ele não jogar a toalha, estarei ali; ele vai quebrar minha outra perna, quebrar meu braço, e estarei vivo até ele me matar, pois não vou desistir."