A III Copa Company, realizada em 1986, teve uma luta considerada incrível por muitos fãs de jiu-jítsu da época. A luta não só foi a colisão de dois lutadores excelentes, mas também representou uma ruptura de tradição. Numa entrevista recente com Rickson Gracie, Luca Atalla fez esta pergunta:
"Houve essa luta contra Rigan Machado, que é seu primo. Você foi muito importante para o conhecimento de Jean Jacques Machado, irmão dele. Muita gente não sabe, mas durante sua carreira como lutador, você sempre estava lecionando — lecionando em dias de semana e lutando nos fins de semana. E, até onde eu sei, você convidou o Jean Jacques para acompanhar suas aulas; você dava uma aula particular e treinava um pouco com o Jean Jacques entre as aulas, e foi assim por um tempo. Estou interessado em saber quão traumatizado você ficou por ver o Carlos Gracie Jr. botar o Rigan contra você, e como foi que isso te afetou a respeito de ensinar outros membros da família depois daquilo."
Você pode ver a primeira parte da resposta de Rickson aqui.
Veja abaixo a segunda parte.
"Gracies não lutam com Gracies; com base em nossos treinos em casa, sabemos quem é melhor; e não competimos para o público; competimos internamente; e no torneio, aquele que é o campeão será o que levantará o braço, e não há confrontos; isso sempre foi um aspecto tradicional da coisa. Portanto, quando o Carlos me disse que eu devia lutar com o Rigan, eu meio que discordei e disse, 'Cara, por que é que você vai fazer isso?'. Ele disse, 'É, porque o patrocinador precisa saber, e ele precisa ver a luta final', e eu disse, 'Não me importo com os patrocinadores; me importo com nosso legado, nossa tradição, nossa amizade, nossa irmandade, então eu não devia lutar com ele'. 'Não, mas...'
"'Então, Carlos, se você vai me obrigar a lutar, beleza, você vai. E estarei no ringue pra lutar, haja o que houver. E se ele está vindo pra lutar comigo, é bom que ele esteja preparado, pois não vai ser fácil; vai ser uma luta séria, e vou fazer meu melhor pra ganhar dele o mais rápido possível.' Dito isto, nós lutamos, e com menos de três minutos, cerca de três minutos, ele já estava batendo no estrangulamento. E depois da luta, ele já estava se sentindo muito mal; ele pediu desculpa, disse que não se sentia bem a respeito de lutar, mas que foi pressionado a lutar; e aceitei aquilo como um pedido de desculpa bem respeitoso, bem honrado; e seguimos a vida na mesma.
"Não me decepcionei com o fato de que o Rigan lutou comigo; me decepcionei com o fato de que o Carlos empurrou o Rigan a lutar comigo. Não me senti bem com aquilo. Mas fui seguindo a vida, segui treinando, segui instruindo outros caras; e isto nunca mudou minha perspectiva de treinar outros membros da família Gracie; sempre mantenho minha cabeça aberta pra aceitar, pra acomodar qualquer coisa. Mas a logística das coisas e a situação meio que nunca me botaram em contato direto com outros membros da família que eu poderia apoiar se a logística e tudo mais permitisse. Mas nunca aconteceu. Mas, sabe? Ótimos momentos, ótimas experiências, e no fim, o jiu-jítsu vence."
Comentários
Carlinhos sempre a margem dos acontecimentos… sempre teve que lutasse as suas lutas… nunca esteve de fato a frente para sair na porrada pelo que acreditava… mas bom de conversa sempre foi… basta ler a carta da “dona Vera”
Mãe do Renzo, Ralph, Ryan, etc… para entender como as coisas caminharam do lado da família “burocrata”…rs…