Rickson e o caminho para um “Jiu-Jitsu pacífico”

Em entrevista ao canal francês de luta Public Domain, mestre Rickson Gracie deixou claro que sua missão no Jiu-Jitsu não está nem perto do fim — está apenas se renovando.

Aos jornalistas franceses, o Gracie discorreu sobre seus objetivos hoje em relação à arte marcial, e sobre o futuro do Jiu-Jitsu no planeta. Como Rickson reparou, os tempos de guerra no Jiu-Jitsu chegaram ao fim. E é preciso estar pronto para os tempos de paz.

“O mundo hoje pede um Jiu-Jitsu mais pacífico do que há 30 anos, nos tempos dos primeiros UFCs”, refletiu. “Meu verdadeiro objetivo hoje é ajudar o Jiu-Jitsu a alargar a base de sua pirâmide. Isto é, quero ver nossa arte se alastrar e fascinar pessoas que nunca cogitaram praticar uma arte marcial. Hoje, em cada dez alunos que entram numa academia de Jiu-Jitsu, oito vão abandonar os tatames em menos de seis meses, antes de começarem a aproveitar. Isso ocorre por conta de um início muito árduo, inóspito para novatos.”

Como Rickson percebeu, o Jiu-Jitsu é a criação humana mais perfeita para fortalecer o lado emocional das pessoas, que anda tão frágil.

“O maior benefício do Jiu-Jitsu, sua razão de existir, é deixar o praticante pronto para lidar com imprevistos, surpresas, perigos”, notou Rickson. “Os treinos hoje precisam ensinar não a vencer um agressor por meio do Jiu-Jitsu, mas vencer os desafios da vida por meio do Jiu-Jitsu. E isso só pode ser ensinado com conceitos essenciais do Jiu-Jitsu, tais quais a defesa pessoal, a estratégia, a respiração e o gasto mínimo de força. A partir desse contato físico tão humano, a mente e as emoções humanas se fortalecem, pois passamos a confiar mais em nossos potenciais. Se o sujeito é um atleta preparadíssimo, mas não um artista marcial, ele vai sentir falta dessas ferramentas, e sucumbir diante da depressão, ansiedade e outros males”.

Rickson ensinou, por fim, como esse Jiu-Jitsu pacífico pode ser sinônimo de felicidade:

“O guerreiro espiritual precisa aprender a vencer suas lutas sem precisar lutar. É a maior das vitórias, vencer sem violência, antecipando-se ao conflito graças a uma mente clara, afiada e pacífica. A felicidade é uma força em movimento, que precisa ser sempre renovada, enquanto os desafios e abacaxis que a vida nos arremessa não param nunca de aparecer na nossa frente. E surgem de todos os lugares, inclusive do celular, por email ou mensagens. O segredo é conhecer a fundo o Jiu-Jitsu, e com isso conhecer a fundo a si mesmo — a ponto de se sentir bem no pior dos infernos.”