Minha rotina em dia de luta, por Rickson

Nos meus tempos de lutador, eu gostava de chegar ao local do evento três horas antes de vestir o roupão e pular as cordas do ringue.

Dirigia-me com a equipe para o vestiário e, para surpresa dos que não me conheciam, ia para um canto confortável e tirava uma soneca. Normalmente era uma dormida de uma hora e trinta, uma hora e quarenta minutos.

Minha receita para dormir pouco antes de um combate decisivo passava pelos pulmões. Eu respirava, expirava, relaxava corpo e principalmente a cabeça, e dormia profundamente, como uma criança.

Acordava quando restava uns 60 minutos para o confronto, e iniciava um aquecimento que durava 45 minutos. Nessa etapa, meus batimentos chegavam a 160, 140, e o suor começava a escorrer. O corpo já estava pronto para a hora da verdade.

Eu então sentava por cinco minutos. Era o suficiente para usar os pulmões para inspirar e expirar, e baixar drasticamente meus batimentos cardíacos. Enquanto isso, o oponente do outro lado saltava, corria, fazia caretas, com o batimento a cem.

Quando a luta começava, eu estava sempre em vantagem em relação ao ritmo do coração e da respiração. Era o que levava meus adversários a, antes de mim, ficar com a cabeça confusa, cometer erros táticos, ver seus braços pesados.

A respiração, portanto, sempre foi minha melhor amiga como lutador. E o melhor: ela é a melhor arma também para quem nunca vai precisar calçar luvas ou amarrar o kimono.

Afinal, como aprendi em tantos anos de vestiários e treinos, os pulmões exercem uma função e tanto no nosso organismo: são eles os verdadeiros zeladores do nosso cérebro e do nosso coração.

Experimente isto o quanto antes: encha totalmente o pulmão e expire de modo lento e gradual. Repita o processo por três minutos. Você vai compreender como será impossível pensar em problemas e afazeres, afinal seu cérebro passa a se voltar para os comandos do movimento respiratório, impedindo qualquer pensamento estressante. De quebra, você ainda desacelera seu coração.

Aí então você vai sentir, como eu sentia naqueles dias de guerra, uma paz difícil de descrever.

Respire, e seja feliz.