Quando a sua mente prega peças em você

Num webinário de 2018, Rickson Gracie recebeu uma pergunta sobre sua luta mais difícil. Sua resposta foi profunda e bastante longa, então deixemos curta esta introdução. 

"Definitivamente, minha pior luta foi minha primeira luta de vale-tudo com Zulu, em que eu tinha 19 anos, sem nenhuma experiência prévia de vale-tudo — só lutas nas ruas, ou treinando na academia, mas não tinha nenhuma experiência em vale-tudo. E o cara já estava com 120 lutas e quatro empates, e 120 vitórias. Ele era simplesmente um monstro com muita experiência. Então quando comecei esta luta, eu estava realmente adquirindo uma nova experiência em minha vida. 

"E bem no começo da luta, pude atingi-lo com meu joelho em sua cara, e comigo eu pensei, 'Ah, ganhei a luta'. Mas estava redondamente enganado; ele levantou, sacudiu a cabeça, cuspiu um dente, e andou na minha direção como se nada tivesse acontecido; eu disse, 'Uau'. Foi terrível: 'Não funciona'. Então ele tá me caçando; e pelos próximos nove minutos, pois eram assaltos de dez minutos, estamos lutando alucinadamente, e ele me joga pra fora do ringue, e eu volto, e pego-lhe as costas e chuto-o, e ele puxa... Então foi uma luta doida. 

"E no fim do primeiro assalto, eu estava completamente exausto; e me arrastei até meu córner e disse a meu pai e meu irmão Rolls, 'Pessoal, não posso voltar. Estou morto'. E meu pai nem me escutou; e eu disse, 'Pai, tou falando sério'. 'Ah, você tá indo bem.' Eu disse, 'Pai, tou falando sério. Não tenho como voltar. Não consigo...'. No que eu começo a explicar meu caso, meu irmão joga-me um balde de gelo e água na cabeça. Aí eles me empurram de volta, e já estou lá de novo com o negão. 

"E, felizmente, foi como meu pai me disse: ele estava tão cansado quanto eu, e consegui uma posição, e ele não teve mais como se defender, e botei-o pra dormir, e venço a luta com três minutos de segundo assalto. Então, a pior coisa pra mim não foi a luta; a pior coisa pra mim foi como eu decidi desistir dentro da minha cabeça. Porque eu achava que não tinha mais chances. E minha mente foi meu pior inimigo. E meu pai provou que eu estava errado. Graças a Deus, meu pai e irmão estavam lá pra me fazerem sentir que, 'Porra nenhuma! Continua lutando'. 

"E finalmente, após esta luta, percebi que meu pior inimigo estava na minha mente, me ludibriando. Então essa foi minha maior lição, foi meu maior pesadelo no tatame, pois quando você para de acreditar, perde noção de tudo ao redor. Então, depois daquilo, eu virei a chave de que prefiro morrer a desistir; e eu nunca, jamais duvidei comigo que tivesse de dar 110 por cento dentro. E se acontecer algo que não se conforma com o que acredito, não vou bater, não vou parar — prefiro apenas me entregar. Então, com essa mentalidade, continuei minha carreira com muito sucesso. Mas não foram exatamente as técnicas aplicadas; foi mais o jeito como penso na tradição, minhas responsabilidades com a família, e a capacidade que tenho de me render a Deus, entregando minha alma, entregando meu corpo para representar o que acredito no momento. Então, depois que morreu o aspecto de desistência no meu cérebro, eu virei o lutador mais feliz do universo."