Um tempo atrás, um bombeiro forte como um touro em Nova Iorque causou uma profunda mudança de mentalidade num dos professores mais célebres do Jiu-Jitsu, Renzo Gracie.
O Gracie estava numa pizzaria da cidade quando um sujeito desconhecido, cerca de 120 quilos, se aproximou, fazendo Renzo olhar para cima.
Fã de MMA e ligadinho no UFC, o bombeirão contou sua história a Renzo. Dera uma chance ao Jiu-Jitsu, mas um mês depois largara o kimono em casa.
— Eu não sabia lutar, e no início era tudo muito duro. Eu perdia toda hora, era derrotado por todos os demais alunos. Fui me sentindo mal, incomodado, entende? Eu me achava ridículo nos tatames. Sentia que o pessoal debochava de mim. Até que desisti.
Aquele encontro, como Renzo narra em suas memórias, “Renzo Gracie, uma vida heroica”, atingiu o faixa-preta como uma pedrada.
— No momento em que o cara me falou aquilo, eu pensei: vou ter de mudar todo o conceito relacionado aos iniciantes, ao modo de ensinar um faixa-branca.
O raciocínio após a metafórica pedrada foi o seguinte: rapaz, se um homem dotado de um físico impecável como aquele se sentia mal treinando artes marciais, como devia se sentir a esmagadora maioria de indivíduos com uma estrutura física dita normal, ou os magricelas? Ou pessoas acima do peso, ou executivos sem tempo para atividades físicas?
Renzo foi para sua academia e mudou todo o programa para novatos:
— A partir daquele mesmo dia, passei a dar uma grande ênfase ao início do processo de cada aluno, para me certificar que eles não desistiriam antes de completar um mês de Jiu-Jitsu. Dei uma atenção especial aos que chegavam. Passei a acolher os novos alunos, a entender as especificidades de cada um como indivíduo, conhecer a pessoa, aprender o nome dela, conversar e saber como ela se sente.
O professor estudou e começou a perceber que não era apenas com o Jiu-Jitsu:
— Acontece isso muito nas academias de musculação de todo o planeta: a maioria das pessoas fica por duas semanas, perde a empolgação e nunca mais retorna. Se a pessoa consegue se manter por mais de um mês, aquilo vira um hábito, e uma parte da vida dela. Depois desse período de dificuldade inicial nas artes marciais, algo que é absolutamente normal nos primeiros 30 dias, o aluno já começa a fazer amizades, e a confiança dele — nos outros e em si mesmo — só tende a crescer.
O mestre Rickson, primo de Renzo, também vem há uns bons anos dedicando especial atenção ao método perfeito para o Jiu-Jitsu acolher novos praticantes, e não afugentá-los de vez, como o nosso bombeiro bonzinho. Confira, no vídeo a seguir, como Rickson pensa a questão.
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