O praticante de jiu-jítsu que procura treinar religiosamente e ser abençoado com uma subida de produção constante deve, primeiramente, evitar os vícios — que, como diria mestre Helio Gracie, são “calos na personalidade das pessoas”.
O primeiro passo, contudo, é notar que comportamentos nocivos à saúde — do corpo, da mente e da alma — a pessoa anda levando para os tatames. Confira os sete pecados capitais aplicados ao jiu-jítsu e busque ser um praticante cada dia mais virtuoso e iluminado, seja qual for a sua religião.
1. Soberba
É o pecado de quem demonstra orgulho excessivo, arrogância e vaidade na academia. A soberba talvez seja a falha mais comum nos tatames — e a que cobra o preço mais alto, pois faz a pessoa se achar muito melhor do que os outros — e, num piscar de olhos, ser surpreendida por uma técnica que não esperava. A vaidade, além de uma armadilha fatal para quem treina, é também uma máscara perigosa. Muitas vezes, o vaidoso usa a arrogância como uma máscara para disfarçar a mediocridade e a falta de habilidade. Isto é, trata-se de alguém que ainda está longe de compreender alguns dos conceitos básicos do jiu-jítsu. Mas há um remédio tiro-e-queda para a vaidade. A humildade, em doses diárias cavalares, já que não tem contra-indicações. Ao perceber que a vaidade só vai atrasar os estudos do jiu-jítsu, o praticamente humilde passa a se preocupar apenas com sua evolução constante, e não com os holofotes ou o comentário dos outros.
2. Avareza
É o defeito dos gananciosos, que não conseguem se satisfazer e estão sempre atrás de mais e mais bens materiais. No jiu-jítsu, o avarento é aquele ser mesquinho com suas técnicas, que detesta dividir conhecimento com seus companheiros de treino. Nos campeonatos, há ainda o atleta avarento, que não exibe mais do que uma ou duas técnicas, e poupa a ponto de vencer todas as lutas nas vantagens. Mas, como sabem bem os mestres, o jiu-jítsu nasceu para ser uma arte rica, para apresentar milhares de opções de saída para um mesmo problema. O avarento teima em só fazer a mesma coisa e fica feliz com essa economia de técnicas. De tão mesquinho, acaba pobre de amigos e de recursos técnicos — e ninguém quer mais treinar com ele.
3. Luxúria
A luxúria é o desejo passional e egoísta por todo o prazer corporal e material, e pode ser a ruína daquele que se deixa dominar pelas paixões e vícios. Grande mestre Carlos Gracie pregava o sexo com moderação para lutadores e, mais importante, dizia que cuidar bem da alma não significava abandonar o corpo: “Seja qual for a orientação filosófica ou religiosa que sigamos, não deverás jamais significar menosprezo ou desatenção pelo corpo com que viemos a este mundo”.
4. Inveja
É o pecado de quem ignora as bênçãos que possui e deseja exageradamente o status e as habilidades que o outro conquistou. Assim como a vaidade, a inveja deve ser pisoteada todos os dias, ao entrar e sair da academia. É preciso ser grato aos recursos físicos que você possui, e não se comparar jamais aos companheiros de treino, sejam mais graduados ou não. O segredo para driblar esse pecado cabeludo é procurar não ligar para graus e faixas, e só se comparar a você próprio, à sua versão mais antiga e menos atlética de quando conheceu o jiu-jítsu e começou a treinar. É o melhor modo de aferir sua evolução e não sucumbir à pressão de ter a mesma habilidade dos colegas em volta. Afinal, ninguém é igual a ninguém. Não inveje, treine mais.
5. Gula
É o desejo insaciável pelos prazeres da mesa. A gula impede que o lutador coma de forma adequada, respeitando as horas de digestão e a escolha sábia dos alimentos, como frutas, saladas e refeições leves antes dos treinos. Quando a gente se alimenta bem, está sempre leve para treinar e tem uma boa digestão. O camarada que esquece isso, chega à academia com a barriga pesada e a cabeça embotada. O corpo é a verdadeira máquina do praticante. Se você bota combustível adulterado, ele reclama; se investe em gasolina de qualidade, ele anda muito melhor. Evite o álcool, invista em saladas e alimentos naturais, e você vai voar nos tatames.
6. Ira
É a cólera, a fúria que tira a pessoa do prumo. Nos treinos, é um pecado altamente nocivo, que faz o lutador se irritar, dizer grosserias e ser mal visto. E é o melhor caminho para ser derrotado. O jiu-jítsu tem de ser encarado com tranquilidade e também com uma pitada de diversão. A ira contra um oponente não é um sentimento útil, pois deixa a pessoa mais nervosa que o normal, e impede que ela acompanhe o raciocínio e a movimentação do rival. Depois de uma luta ou um mau treino, você pode até ficar irado com sua atuação e com o resultado — mas a resposta não deve ser uma grosseria nem gestos que levem ao arrependimento. Está com raiva? Use-a como chama para voltar à academia, treinar o triplo e evoluir.
7. Preguiça
É o estado da negligência, desleixo e moleza. No jiu-jítsu, o praticante excessivamente moroso acaba se prejudicando desde as primeiras semanas. É o caso do estudante de jiu-jítsu que se atrasa para os treinos por desleixo, esquece o kimono úmido ou sujo ou está sempre com a faixa desajeitada. A preguiça é a principal inimiga da consistência nos treinos. Há sempre aqueles dias em que o corpo não quer sair da cama, mas a mente precisa ser mais forte. Lute com a preguiça todos os dias, combatendo-a como se fosse um oponente dos mais ardilosos, e cheio de manhas. Crie suas táticas contra a preguiça, trace suas metas e cumpra seus horários. É nos dias chuvosos e nublados que nascem os verdadeiros campeões.
Comentários
I wish that I would have read this 17 years ago, I would be a lot further along in my Jiu Jujitsu progression... Never to late to keep these wise words in mind and take them to heart. Thank you Sir.
Osu
Fantastic! Wise.