Tarzan e o Jiu-Jitsu

Poucos personagens da literatura mundial se tornaram tão queridos, e por tantas décadas, quanto o jovem John Clayton III.

Se você não ligou o nome à pessoa, não esquente a cabeça. Seu nome de batismo é quase ignorado mesmo – o mundo só o conhece pelos peitorais avantajados, pela tanga e pelo apelido dado por uma turma de primatas: Tarzan.

O rei das selvas, jovem firme, inteligente e leal, foi uma criação do escritor Edgar Rice Burroughs (1875–1950), em 1912. A leitura de “Tarzan of the apes” continua uma delícia, portanto nada de spoiler.

Basta lembrarmos que o garoto foi dar de barquinho na costa atlântica da África, e precisou se virar. E como o fez? Com sorte, novos amigos peludos e, claro, um dom para as lutas que o livraria de várias enrascadas. Inclusive contra leões e jacarés, como você deve ter visto na TV e cinema.

Num dos trechos mais eletrizantes do romance de Burroughs, Tarzan decide enfrentar um dos macacões mais temidos da região, a fera Terkoz. Tarzan inicia o duelo com uma tática: tentar controlar o bichão pelas costas.

A manobra é realizada com sucesso, e a Terkoz só resta se debater furiosamente. No meio do embolo, a tensão: Tarzan perde sua faca, suas pegadas no dorso do bicho e a tranquilidade. Mas não perde a respiração nem seu instinto de lutador:

“Terkoz lançou-se contra o chão tão violentamente que Tarzan pôde apenas se agarrar – desesperadamente – ao corpo que se sacudia”, narra mestre Edgar, até o ponto que a luta chega ao clímax, com o herói numa triunfal “posição inexpugnável”, que permite ao humano subjugar o rival sem feri-lo.

“Seu braço passara por debaixo do braço de Terkoz, e sua mão e antebraço envolveram a nuca da fera. Era o half-Nelson, golpe de luta moderna que o leigo homem-macaco descobrira sem querer, mas cujo valor a razão divina mostrara em um instante.”

“Era, nesse momento, o que separava a vida da morte. E assim ele lutou para dar um golpe semelhante com a mão esquerda, e em pouco tempo o enorme pescoço de Terkoz rangia sob um full-Nelson. Já não se debatiam. Os dois jaziam perfeitamente parados no chão, Tarzan montado nas costas de Terkoz.”

A pancadaria na selva terminaria em dialeto símio:

 

– Ka-goda? (Você se rende?)

– Ka-goda!

E a paz volta a reinar na tribo. Foi por pouco. Agora imagine se Tarzan conhecesse o Jiu-Jitsu!