Como combater um dos piores demônios da vida de um lutador

Quando contava apenas 19 anos e fazia sua estreia no vale-tudo, Rickson Gracie começou a cansar. E a bufar. Com seu cérebro menos oxigenado do que gostaria, desandou a ouvir vozes. “Eu preciso parar. Não aguento mais, estou cansado. Melhor desistir.” Eram os pensamentos que brotavam como um cano furado de sua própria cabeça.

No intervalo da luta, contudo, o mestre Hélio Gracie ignorou o que Rickson pedia, e seu irmão mais velho Rolls virou um balde de água gelada em sua cabeça. Santo remédio: Rickson retornou e finalizou rapidamente o famigerado Rei Zulu, em célebre noite em Brasília, em 1980.

“Ali aprendi que nosso maior inimigo mora dentro da nossa cabeça”, percebeu o campeão invicto da família, que por pouco, muito pouco, não debutou com uma desistência no cartel.

Em papo recente no podcast de Joe Rogan, Rickson desenvolveu o raciocínio, e como lidar com tais vozes.

* Joe Rogan: “Perder a fé em si mesmo no decorrer de uma luta é provavelmente o fantasma mais comum na rotina dos lutadores profissionais. Todo mundo um dia ou outro procura por uma rota de fuga, um jeito de escapulir dali, certo?”

* Rickson Gracie: “Sim, e isso acontece principalmente porque o lutador é incapaz de enxergar pelo ponto de vista do oponente. O cara do outro lado também está inseguro, exausto, sem oxigênio, doido para ouvir o gongo tocar. É uma característica muito humana, na realidade: quando estamos com problemas, costumamo-nos concentrar nos aspectos negativos, e exageramos o tamanho do problema. Quem percebe que o adversário está passando exatamente pelos mesmos sentimentos que você não se abala e segue em frente, pois capta que está tudo dentro da normalidade de uma luta. O talento está em enxergar seus problemas do tamanho verdadeiro, e não exagerar nas proporções, afinal isso só vai atrapalhar a resolução daquele problema. E esse é um poder que todos nós temos dentro da gente. Certos esportistas podem se beneficiar de especialistas e psicólogos, mas o caminho principal passa por entendermos que se trata de um problema interno, na nossa própria cabeça, e que esses fantasmas podem ser combatidos sem interferências externas. Basta uma aceitação verdadeira e uma iluminação total do problema”.

E você, analisa seus problemas com uma lupa ou corre de medo deles? Respire, e concentre-se na resolução. Bons treinos.