Nove entre dez livros de autoajuda e coaches bem-sucedidos ensinam: viver com sabedoria e inteligência é aprender com o bambu. É preciso criar raízes fortes sem se esquecer de ser flexível. Curvar-se para não quebrar, com humildade e resistência nos dias de tempestade. Pois foi esse poder de adaptação, crucial para profissionais de qualquer área, que mestre Rickson Gracie aprendeu desde a infância nos tatames.
Esse poder de improviso e maleabilidade é utilizado por Rickson há décadas quase diariamente, em seus treinos, mas ocorreram quase no campo do invisível, com detalhes técnicos mínimos que nem todos conseguiam perceber.
Houve, porém, um dia em que esse poder de Rickson ficou evidente, visível e claro aos olhos de todos os seus fãs. Foi ali em abril de 1995, quando o hoje mestre de jiu-jítsu estava no auge da pujança, com uma carreira invicta que contava cinco lutas profissionais nos ringues.
Diante de milhares e milhares de fãs, o Gracie adentrou o estádio japonês para uma espécie de revanche entre clãs. Seu oponente seria o grandalhão Yoshihisa Yamamoto, um velho aluno do mestre Masahiko Kimura, aquele que vencera Helio Gracie no Brasil. O acerto de contas bem aos moldes dos eventos japoneses começou com um Rickson tranquilo, mas logo veio o imprevisto. Um imprevisto que fez a luta durar 18 minutos, uma duração muito mais longa do que Rickson estava acostumado em duelos anteriores.
Sem vontade nenhuma de ser levado ao chão pelo brasileiro, Yamamoto agarrou-se como podia: ficou grudado, atado às cordas do ringue japonês, e nem água fria o faria se desgarrar dali. Rickson, no ataque e no clinche, buscava a queda, mas sem sucesso. E assim o primeiro assalto terminou. E também o segundo.
E nem adiantou reclamar com o árbitro, pois as regras não previram punição para essa tática, digamos, medrosa. Que, na verdade, era um recurso até manjado dos atletas do pro-wrestling japonês, mas que a trupe do Gracie não se atentou.
O que fazer? Se quisesse sair com a vitória — e com a finalização — Rickson precisaria mudar de rota para o terceiro assalto. E assim foi feito.
Após breve papo com o irmão Royler no córner, a estratégia nova foi traçada. Rickson então abandonou a ideia de insistir no clinche e na luta colado às cordas. Em vez disso, atraiu magistralmente o japonês de 98 kg para o centro do ringue.
Aí foi tudo rápido: o Gracie derrubou, passou a meia-guarda de Yamamoto, pegou as costas e botou o oponente para dar um cochilo, naquela noite memorável em Tóquio.
Tudo suave como o balanço do bambu em harmonia com a brisa.
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