Não jogue dados com seus alunos de Jiu-Jitsu

Como seria hoje a academia de Jiu-Jitsu perfeita — ao mesmo tempo conectada com os novos tempos mas ser desligada das tradições da arte marcial?

Para Rickson Gracie, um dos principais aspectos seria a qualidade do dojo em relação ao ensino tanto da defesa pessoal quanto das técnicas de competição, sem que o treino de um seja negligenciado em favor do outro.

“A academia de Jiu-Jitsu perfeita precisa que esses dois ambientes que muitos julgam contraditórios se conectem”, diz o Gracie. “Isto é, o professor deve ensinar a ambos os públicos, da senhora que quer apenas se exercitar ao jovem ansioso em virar um campeão mundial.”

Mais do que uma didática exemplar, esta é para Rickson a única maneira de impedir que a maioria dos alunos desista no primeiro mês:

“Quando você introduz o Jiu-Jitsu para o recém-chegado com conferes, com manobras e técnicas mais exigentes vistas na competição, você está jogando dados com seus faixas-brancas”, ensina Rickson. “Se o aluno for durão e tiver um coração de guerreiro, e der a sorte de não se machucar contra um parceiro mais experiente, o professor deu sorte e ele talvez fique. Na maioria das vezes, porém, isso não ocorre — e há pesquisas que garantem que mais de 80% dos praticantes largam o kimono naquelas primeiras semanas. Quando o aluno não se vê preparado (ainda) para lidar com o confronto, ele pula fora num estalar de dedos. E nunca mais dá outra chance ao Jiu-Jitsu.”

É assim que, para Rickson, o ponto de partida de qualquer aluno novo deve ser no ambiente suave da defesa pessoal, dos movimentos simples de defesa que aumentam o poder mental e físico de qualquer pessoa. “A partir da defesa pessoal, quando o aluno começa a se tornar confortável no Jiu-Jitsu, aí sim ele sente confiança para se testar contra a técnica dos outros alunos, naquele famoso e popular xadrez que são as competições. Se o novato possuir aquele espírito de competição, poderá se iniciar na academia naquele jogo de meu Jiu-Jitsu contra o seu: “Será que ele passa minha guarda?” “Será que eu o finalizo?” E por aí vai. Depende do gosto de cada um, mas o papel de uma boa academia é claro: precisamos oferecer defesa pessoal como introdução e técnicas esportivas somente aos mais avançados. A competição não é para todos, mas o Jiu-Jitsu sim. A defesa pessoal é acessível para todo e qualquer perfil de aluno”.

Fique atento, portanto: o jogo de Jiu-Jitsu contra quem sabe Jiu-Jitsu é muito divertido e revigorante. Mas você deve sair das portas da sua academia pronto para enfrentar um incauto que nada sabe de Jiu-Jitsu, mas cujo recurso apesar de pouco versátil pode ser um perigo: basta a ele saber apenas um soco, uma gravata ou ter um único pedaço de pau para estragar seu dia. Mas só quem não aprende o Jiu-Jitsu completo vai se preocupar com isso.